COMICIDADE E UTILIDADE DA FILOSOFIA

Há algo na essência da Filosofia em geral, uma tendência a romper padrões, mudar de perspectiva, destruir certezas tão dogmáticas nas almas dos muitos (os "hoi-poloi" de Heráclito) que acaba por provocar neles (e em nós mesmos, pois quem pode se colocar de fora desse "rebanho" nietzschiano?) a comicidade? Os textos de Platão estão recheados desse tipo de comportamento frente a elocubrações de Sócrates...

Na época em que vivemos, de materialismo, utilitarismo, tecnicismo, cientificismo e consumismo (isso para economizar "ismos"), a Filosofia pode parecer inútil. Mas qual é a utilidade de um poema ou uma música, como bem diz Rubem Alves?

Tenho esperança que as universidades, principalmente as de Filosofia, um dia irão além dessas "formas de escola mais esclerosadas", como escreveu Heidegger, por se preocuparem cada vez menos com o universal (constitutivo de seu próprio nome!), e cada vez mais com a especialização. Até em Filosofia!

Na minha vã esperança, agora voltada especialmente para as faculdade de Filosofia, também há espaço para acreditar que um dia mais professores conseguirão ensinar a pensar (como Sócrates fazia), e menos a repetir a História da Filosofia. O som de fundo do ensino de Filosofia é o das fotocopiadoras e não o da criação...

E por que não fechar com Nietzsche? (Aforismo 29 do "Crepúsculo dos ídolos"):

"- Qual é a tarefa de todo ensino mais elevado?

- Tornar o homem uma máquina.

- Qual o meio para tanto?

- Ele precisa aprender a entediar-se."


(Fabio Rocha)

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