A Psicanálise Contemporânea

Psicanálise Contemporânea - Fabio Rocha


A clínica nos dias atuais, após mais de cem anos de Freud “descobrir” o inconsciente, se apresenta na contemporaneidade como um encontro mediado pela palavra. Independentemente da escola. A palavra do analisando, que  carrega com ela afetos, emoções.

O papel ético do psicanalista é proporcionar esse livre discurso. Escutar. O analisando deve falar livremente sobre seus pensamentos, experiências, sentimentos, sem qualquer julgamento ou censura por parte do analista. Com isso, ele poderá melhor compreender seus conflitos e promover mudanças nos padrões disfuncionais. Para que o analisando possa reconfigurar a sua percepção de si mesmo. Ao ouvir a si mesmo, perceber como conta sua própria história e através disso acessar seu inconsciente. A técnica principal é a escuta ou atenção flutuante (escuta ou atenção flutuante refere-se ao estado especial de consciência de que o terapeuta necessita para ser capaz de ouvir o paciente e detectar o que há de mais significativo em sua história).

Assim, acaba-se chegando a causa que leva a expressão de sintomas. 

Para se estabelecer essa relação com sucesso, o analista precisa estar bem consigo mesmo, com sua própria escuta. Daí a importância de também ser analisado. O tripé psicanalítico segue como base nos dias atuais: teoria, análise pessoal e supervisão. Principalmente nos tempos atuais, desenvolver a arte da escuta, sem que algo do próprio analista se revele, requer que o analista tenha muito tempo de qualidade como analisando.


O analisando sempre tem um desejo pelo não saber. A tensão gerada pelo desejo e a impossibilidade de obter o que deseja. O indivíduo procura a análise buscando a diminuição de sua angústia, não de entrar em contato com seus conteúdos inconscientes. Conhecer-se, estar próximo de si é algo de que fugimos naturalmente. O psicanalista, necessariamente, precisa tocar em pontos que o analisando não quer olhar. Não quer falar sobre. Não que deixar acontecer a catarse. O neurótico tende sempre a evitar. Muitas vezes, neste processo, vai ficando claro que seus desejos muitas vezes não são desejos dele, mas dos pais, da sociedade, de outros. E não é fácil chegar nesse ponto de desconstrução, possibilitando uma ressignificação do olhar sobre si mesmo. Aí começa a mudança.


Hoje, devemos manter o foco nas resistências do analisando. A angústia que o traz para a análise, falta de sentido ou entendimento, sensação de vazio sem um objeto claro. (Quando há um objeto claro, é fobia.) O analisando vive na evitação de ambas. E a importância da psicanálise hoje é justamente essa: se aprofundar, sem pressa, de modo a tratar as causas. Diferentemente de outros tratamentos que só visam melhorar os sintomas, as angústias e fobias, sem trabalhar de forma mais profunda (e - podemos dizer - até filosófica) em suas causas. Curiosamente, em situação de paixão ou ódio, também sofremos um tipo de evitação. A pessoa não quer saber de mais nada, o foco se resume ao objeto, o outro (muito mais imaginário do que real). Há uma evitação também de qualquer outra coisa fora desse foco de paixão ou ódio. Inclusive de conhecer o outro real ou a si mesmo. Muitas vezes, essa “cegueira” causa tantos transtornos na vida da pessoa, que ela busca a psicanálise.


OBS.: Ao se aproximar das questões, a angústia aumenta. É normal. Nessa hora, cabe ao analista o manejo para impedir a fuga, a quebra do setting analítico e do atendimento em psicanálise. Pois passar por essa angústia é uma fase necessária para proporcionar a mudança que o analisando tanto quer em sua vida.