Os sonhos e sua interpretação

Os sonhos e sua interpretação - Fabio Rocha


A interpretação dos sonhos só é possível se partirmos dos pressupostos de que os sonhos não são totalmente caóticos, aleatórios.  Ao perceber isso e buscar uma inteligibilidade nos sonhos, Freud se depara com a linguagem do inconsciente, simbólica. Para ele, os sonhos seriam a tentativa de realizar um desejo reprimido que se escondia no inconsciente

Segundo Freud, “É o próprio sonhador que deve nos dizer o que seu sonho significa.” (1) Portanto, devem ser descartados quaisquer manuais de interpretações de sonhos generalizantes, do tipo “sonhar com tal coisa quer dizer tal coisa”, pois isso varia de pessoa para pessoa. Além disso, ele condensa uma multiplicidade de significados. O processo de interpretação de sonhos para Freud é infinito. Por isso, pode ser trabalhado em várias sessões de psicanálise. 

O sonho funcionaria também como guardião do sono. Em situações de guerra, com pouca comida, muitos soldados relataram sonhar com banquetes. Ou seja: os sonhos os ajudavam a sobreviver, mantendo-os dormindo apesar das condições. 

Muitas vezes, quando há uma má relação com um desejo, ele se manifesta através de um pesadelo. Quando dormimos, o pré-consciente fica um pouco desligado e não filtra bem o que pode passar do inconsciente para o consciente. Ou seja, acaba aparecendo no consciente um desejo do id, pois o superego está mais enfraquecido no sonho. Isso causa uma sensação tão forte que muitas vezes até despertamos (e o sonho perde sua função de guardião do sono, no caso, ao nos acordar). E é por isso que os sonhos são material de tamanha importância para a psicanálise. Pelo que podem mostrar, acessar diretamente do inconsciente. Por este motivo, Freud chamou os sonhos de “via régia” para o inconsciente. Tudo que se evita olhar no estado desperto, durante o sonho pode aparecer com mais facilidade: desejos desconhecidos, fixações, traumas etc.

Além disso, no sonho há conteúdo manifesto e conteúdo latente. Ao sonharmos que subimos escadas com alguém, por exemplo, há um esforço mútuo, suamos, ofegantes, até chegar a um ponto mais alto, um ponto de clímax. Poderia ser um desejo que não suportaríamos (causaria sofrimento e choque ver diretamente) de fazer sexo com aquela pessoa (poderia ser um parente, por exemplo). No caso, o conteúdo manifesto é a subida da escada ao lado dessa pessoa e o conteúdo latente seria fazer sexo com ela. 

Há vários mecanismos na formação de um sonho (o que torna tão fascinante e elaborada sua análise). Os dois principais são a condensação e o deslocamento. A condensação junta em um único elemento onírico vários elementos, vários significados. Já o deslocamento é fruto da censura, onde um conteúdo latente é substituído por uma de suas partes, de modo que possamos suportar o que aparece no sonho. Por exemplo, se sonhamos que estamos cortando carne no açougue e nela aparece o vestido de nossa mãe, poderia ser um deslocamento para não vermos no sonho claramente a tentativa de realizar o desejo de matar a própria mãe a facadas.


(1) 
FREUD, S. (1915-1916) Conferências introdutórias sobre psicanálise, partes I e II. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 106