A importância da Amamentação e do Holding na visão Psicanalítica - Fabio Rocha
A importância da amamentação na perspectiva psicanalítica é amplamente reconhecida. A relação entre mãe e bebê durante a amamentação é considerada uma das primeiras experiências de vinculação emocional, proporcionando segurança e estabelecendo as bases para o desenvolvimento saudável do indivíduo. De acordo com a psicanálise, a amamentação desempenha um papel crucial na construção da identidade e na formação da personalidade do bebê. Durante esse período, ocorre a satisfação das necessidades básicas do bebê, promovendo a sensação de completude e segurança emocional. A amamentação também facilita a conexão afetiva entre mãe e filho, estabelecendo uma base sólida para a confiança e o amor. A falta de amamentação ou a interrupção precoce desse processo podem levar a uma série de problemas emocionais e psicológicos. O prazer da mãe em amamentar também é importante e parece ser percebido pela criança. Um exemplo é o transtorno de personalidade borderline. Pacientes com esse transtorno frequentemente apresentam dificuldades na regulação emocional, instabilidade nos relacionamentos e uma sensação profunda de vazio. Acredita-se que a falta de uma experiência de amamentação satisfatória possa contribuir para o desenvolvimento desses sintomas, pois a relação mãe-bebê não foi adequadamente estabelecida nos estágios iniciais. A dependência emocional também pode ser influenciada pela falta de amamentação adequada. A amamentação cria uma sensação de conforto e segurança para o bebê, fornecendo uma base (segurança, conforto etc.) para a autonomia e a independência emocional posteriormente. Quando essa experiência é negada ou insuficiente, a criança pode desenvolver uma tendência a buscar constantemente a aprovação e a segurança emocional em outras pessoas, tornando-se dependente de relacionamentos íntimos para suprir suas necessidades emocionais básicas. Quanto ao período mínimo recomendado para amamentação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) recomendam a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida do bebê. Isso significa que o bebê deve receber apenas leite materno, sem a introdução de qualquer outro alimento ou líquido. Após esse período, a amamentação deve ser complementada com alimentos adequados e nutritivos, continuando até pelo menos os dois anos de idade. É importante ressaltar que a psicanálise reconhece a amamentação como uma experiência fundamental para o desenvolvimento psicológico saudável do indivíduo, mas também reconhece a complexidade das interações humanas e a multiplicidade de fatores que podem influenciar o desenvolvimento psíquico. A amamentação não é o único determinante do equilíbrio emocional e da formação da personalidade, mas desempenha um papel significativo nos estágios iniciais da vida.
Do ponto de vista psicológico, os malefícios de um tempo insuficiente de amamentação podem incluir:
Impacto na formação do vínculo afetivo: A amamentação cria uma oportunidade para a mãe e o bebê se conectarem emocionalmente. A falta de amamentação adequada ou a interrupção precoce desse vínculo podem afetar negativamente o desenvolvimento emocional e a segurança emocional do bebê.
Estresse e ansiedade: A amamentação libera hormônios, como ocitocina e prolactina, que promovem sentimentos de relaxamento e bem-estar tanto na mãe quanto no bebê. A falta desses momentos tranquilos e reconfortantes pode levar a níveis elevados de estresse e ansiedade em ambos.
Autoestima materna: Para muitas mães, a amamentação é uma experiência gratificante e fortalecedora, que contribui para sua autoestima e confiança como cuidadora. A impossibilidade de amamentar ou a amamentação insuficiente pode levar a sentimentos de culpa, frustração e diminuição da autoestima.
Desenvolvimento emocional do bebê: A amamentação é uma forma de comunicação não verbal entre a mãe e o bebê, permitindo que o bebê aprenda a reconhecer e responder às necessidades emocionais. A interrupção precoce da amamentação pode dificultar a capacidade do bebê de regular suas emoções e lidar com o estresse.
Além da importância da amamentação na perspectiva psicanalítica, outro conceito relevante é o do "holding". Esse termo, cunhado pelo psicanalista britânico Donald Winnicott, refere-se à capacidade da mãe (ou cuidador) de proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para o bebê durante os primeiros estágios de desenvolvimento.
O holding envolve tanto o aspecto físico quanto o emocional. Fisicamente, significa segurar e sustentar o bebê com cuidado, garantindo sua proteção e bem-estar. Emocionalmente, envolve estar presente de forma atenta e sensível às necessidades do bebê, oferecendo-lhe conforto e apoio emocional.
Na perspectiva psicanalítica, o processo de holding é fundamental para o desenvolvimento saudável do bebê. Ele fornece um ambiente seguro e confiável, permitindo que o bebê explore e experimente o mundo de forma segura. O holding adequado contribui para a formação do senso de identidade e da capacidade de confiar nos outros, estabelecendo as bases para relacionamentos interpessoais saudáveis no futuro.
A falta de holding adequado pode resultar em problemas psicológicos, como a dependência emocional mencionada anteriormente. Quando o bebê não recebe o apoio emocional necessário durante os estágios iniciais, ele pode desenvolver uma sensação de insegurança e desconfiança em relação aos outros. Isso pode levar a dificuldades na formação de relacionamentos saudáveis, dependência excessiva dos outros para suprir suas necessidades emocionais e dificuldades em lidar com a separação e a autonomia.
Além disso, a psicanálise destaca a importância da relação mãe-bebê como um todo. A qualidade do vínculo emocional estabelecido durante a amamentação e o processo de holding influenciam diretamente o desenvolvimento psicológico da criança. Essas experiências precoces são internalizadas pelo bebê, formando modelos internos de relacionamento que moldam sua maneira de se relacionar com os outros ao longo da vida.
A falta da função materna, entendida como a ausência ou insuficiência de cuidados e vínculo emocional adequados por parte da figura materna, pode ter um impacto significativo no desenvolvimento psicológico da criança, incluindo o desenvolvimento de autismo e de melancolia, além do transtorno borderline. No entanto, é importante destacar que o autismo e a melancolia não são causados exclusivamente pela falta da função materna, mas sim por uma combinação complexa de fatores genéticos, biológicos e ambientais. Autismo: O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação social, interações sociais restritas e padrões repetitivos de comportamento. Sua origem é multifatorial e ainda não totalmente compreendida. Estudos sugerem que fatores genéticos desempenham um papel importante na predisposição ao autismo. Melancolia: A melancolia, também conhecida como depressão melancólica, é um transtorno do humor caracterizado por tristeza profunda, perda de interesse e prazer nas atividades, alterações do sono e do apetite, além de sentimentos de culpa e baixa autoestima. A melancolia tem uma etiologia complexa e multifatorial, envolvendo fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais. A falta da função materna pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da melancolia, mas não pode ser considerada sua única causa. É importante ressaltar que a formação de vínculos seguros e afetivos é crucial para o desenvolvimento saudável da criança. A figura materna desempenha um papel importante nesse processo, fornecendo cuidados, afeto, segurança e estímulos adequados. A falta desses elementos pode ter um impacto negativo no desenvolvimento emocional da criança e aumentar o risco de problemas psicológicos.
Em suma, a amamentação e o processo de holding desempenham papéis cruciais na perspectiva psicanalítica. Eles fornecem os alicerces para o desenvolvimento emocional e a construção da identidade do indivíduo. Através dessas experiências, o bebê aprende a confiar nos outros, a regular suas emoções e a estabelecer relacionamentos saudáveis. Portanto, é fundamental garantir um ambiente acolhedor e estimulante nos primeiros estágios da vida, promovendo a amamentação adequada e o processo de holding para favorecer um desenvolvimento psicológico saudável.
P.S.: Além dos benefícios psicológicos, a amamentação oferece uma série de vantagens para o bebê devido às propriedades únicas do leite materno. Ele contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança, além de componentes imunológicos que protegem contra infecções e doenças. Estudos têm mostrado que bebês amamentados exclusivamente têm menor risco de desenvolver infecções respiratórias, gastrointestinais, otites, alergias, obesidade e doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, ao longo da vida. Quando o tempo de amamentação é reduzido ou não ocorre de forma exclusiva nos primeiros seis meses, há um aumento nos riscos para a saúde do bebê. Vejamos alguns dos malefícios associados a um período insuficiente de amamentação: Maior suscetibilidade a infecções: O leite materno fornece anticorpos que ajudam o bebê a combater doenças. A falta de amamentação adequada pode resultar em uma menor proteção imunológica, aumentando o risco de infecções. Problemas gastrointestinais: O leite materno é facilmente digerido pelo sistema digestivo do bebê. A introdução precoce de alimentos sólidos ou a substituição do leite materno por fórmulas pode causar desconforto intestinal, constipação ou diarreia. Alergias e intolerâncias alimentares: O leite materno ajuda a desenvolver a tolerância a diferentes alimentos, reduzindo o risco de alergias e intolerâncias. Bebês que não são amamentados adequadamente podem apresentar maior propensão a desenvolver alergias alimentares. Impacto no desenvolvimento cognitivo: Estudos sugerem que a amamentação exclusiva está associada a um melhor desenvolvimento cognitivo. A falta de amamentação adequada pode prejudicar o desenvolvimento cerebral e cognitivo do bebê. Aumento do risco de doenças crônicas: A amamentação adequada nos primeiros meses de vida pode ter um impacto positivo na prevenção de doenças crônicas na vida adulta. A falta de amamentação exclusiva pode aumentar o risco de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e outras doenças crônicas.
Material complementar:
Vídeo para pais atualíssimo, considerando os malefícios do celular e da falta de limites e o índice alarmante de aumento dos suic*dios em crianças e adolescentes:
https://youtu.be/wXPde553o-U?si=G3S5kMxQSA_ljI0r
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/518/2020/09/2014-Kruel-Souza-ing.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942010000300010
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/4350/4350_5.PDF
Nenhum comentário:
Postar um comentário