Psicopatologia Psicanalítica

Psicopatologia Psicanalítica - Fabio Rocha



Patologia vem do grego “Pathos”, mesma origem da palavra “paixão”. Pathos, para os estóicos, seria um grau de percepção de forma subjetiva, pessoal. Uma imagem específica e individual da natureza da alma. Já o Epicurismo interpretou o Pathos em situações mais corriqueiras, sob a visão do princípio do prazer (que não tem relação com o “princípio do prazer” de Freud).  A experiência e o aprendizado do Pathos estariam relacionados com o prazer, o desprazer e a variação de emoções para os Epicuristas (momento histórico menos maniqueísta). Além de uma visão dual de bem e mal, simplista, os Epicuristas enxergam o Pathos como uma dinâmica de vida mais complexa. Para Aristóteles, que trabalhou o conceito de Pathos dentro da retórica (arte de falar, de emocionar e de persuasão). Em resumo:


  1. Estoicismo - Pathos como estado de espírito (subjetivo)

  2. Epicuro - Pathos como a variação de emoções das pessoas

  3. Aristóteles - Pathos como a influência que o retórico exerce sobre as emoções do público (exercício de autoconhecimento)


A relação disso com a questão da doença está na subjetividade, nas emoções, nos graus de percepção de si e do mundo, da relação com os pontos sensíveis da existência de cada ser humano. Nossos graus de percepção teriam alguns aspectos em comum. Pessoas com visões de mundo ou formas sensoriais de mundo parecidas com a nossa geram uma sensação de reconhecimento. “O pathos está ligado ao modo afetivo que cada indivíduo constrói para estar no mundo, dizendo respeito não somente às questões de desequilíbrio, mas estando presente também no dia-a-dia do sujeito e de sua cultura. Essa disposição subjetiva individual resultará na maneira como o sujeito lidará com a realidade: se com mais ou menos sofrimento, se com mais ou menos contato com essa realidade e de maneira mais rígida ou flexível.” - apontamento feito pelos Psicanalistas Tania Inessa e José Carlos Filho em “A patologia como possibilidade estruturante do sujeito: uma releitura da questão phatica”.


Historicamente, houve uma evolução na forma como eram encaradas as doenças mentais. Na idade média, a Igreja e a religião viam influências espirituais nessas doenças (baseada em folclore, superstição, eventos sobrenaturais, bruxaria, curandeirismo, possessões etc.). Apesar dessa visão ainda perdurar em alguns meios, com o Iluminismo, passa-se a trabalhar na cura da doença mental. no século XIX surgem os manicômios para seu tratamento. É quando surge Freud e as bases da Psicanálise. Freud questiona a visão de sua época de doença mental como excesso ou desvio.


Patologia é o estudo das causas e efeitos de doenças e de lesões. Para a psicanálise, Freud partiu do estudo das defesas da repressão para construir o extrato da patologia psicanalítica. Freud estudava a histeria inicialmente, junto com Breuer. A ideia fixa, representação obsessiva e o delírio, típicos da histeria foram posteriormente enquadrados na psicose. Na psiquiatria, teremos uma tentativa maior de enquadramento das doenças mentais a psicopatologias específicas. 


A psicopatologia pode ser entendida com o estudo das doenças anormais, sendo esse grau de normalidade determinado pela época. Vários comportamentos são vistos como doença ou não conforme a época. A norma social é um registro inicial do que se pode denominar como psicopatologia. 


Há duas formas de observação na psicopatologia. Na psicopatologia descritiva, há uma observação dos sintomas relatados pela pessoa. Baseia-se na fenomenologia. Um sintoma dentro de um contexto social, econômico e político. Na psicopatologia explicativa, busca-se encontrar explicações para certos tipos de sintomas de acordo com modelos teóricos (exemplo: TCC - terapia cognitivo comportamental). 


A psicopatologia para outras áreas difere da psicopatologia para a Psicanálise. A psicanálise tem uma visão dualista, baseada em Descartes: alma/mente (inconsciente) versus corpo/matéria (consciente). Para as outras áreas (que não consideram o inconsciente), a visão é mais monista: processos físicos, elétricos e químicos do cérebro. Mais facilmente observável em dados. Esta visão é a da psiquiatria e medicina e pode ocasionar o problema da hipermedicação, como ocorre hoje em todo o mundo e nos Estados Unidos, principalmente. Ainda nessa área que desconsidera o inconsciente, a neurociência tem mostrado estudos comprovando os benefícios da meditação para algumas doenças. 


A grande categorização na psicopatologia psicanalítica:


  • Neurose - “doença dos nervos” - maioria das pessoas tem. doenças psicossomáticas. sintomas simbólicos de conflito psíquico. raízes infantis. 


  • Psicose - algo que a mente não consegue suportar e cria uma realidade diferente.

  • Perversão - sem castração na infância. realiza todos os desejos. (realiza o que o neurótico apenas deseja). tem prazer no sofrimento do outro. OBS.: Pode ser um narcisista - senso de superioridade e foco em si mesmo (mas nem todo narcisista é perverso). Pode ser um psicopata (dificuldade de sentir empatia ou remorso, crueldade).


Subdivisões da Neurose: Obsessiva (sintomas compulsivos gerando ciclo repetitivo), Histeria (transtorno psíquico que resulta em somatização ou angústia) e Fobia (situação ou objeto externo específico. Ex: aracnofobia).

Subdivisões da Psicose: Paranoia (delírios de sofrer ameaça ou perseguição), Esquizofrenia (delírios, alucinações, pensamento e fala desorganizados e comportamento bizarro e inadequado), Melancolia (tristeza profunda e prolongada - estado mórbido caracterizado pelo abatimento mental e físico, hoje considerado mais como uma das fases da psicose maníaco-depressiva.) e Autismo (na atualidade é considerado um distúrbio global do desenvolvimento e muitos o consideram uma "invenção" da psicopatologia moderna).

Subdivisões da Perversão: Fetichismo (adoração por objeto ou parte do corpo), Parafilia (relação de dor ou sofrimento - sadismo, masoquismo, pedofilia...) e Adicção (dependência biopsicossocial).

OBS.: O psicanalista não faz diagnóstico ou passa remédios (quem pode fazer é psiquiatra), porém esse conhecimento das patologias (e também dos remédios) pode ser útil no processo de análise. Da mesma forma, o bom psicanalista não julga ou aconselha, cabendo esta função para alguns psicólogos que trabalham assim. A psicanálise vai além da descrição dos sintomas, explorando os desejos e motivações subjacentes e procurando ajudar o sujeito na compreensão dos conflitos e na promoção de mudanças nos padrões disfuncionais – o que implica na redução dos sintomas.


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